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segunda-feira, 11 de agosto de 2014

A EDUCAÇÃO FÍSICA SEGUNDO OS PCNS

A EDUCAÇÃO FÍSICA SEGUNDO OS PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS

PRISCILA TREVISAN[1]

            Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) foram elaborados com o objetivo de oferecer ideias para a organização do currículo escolar e de servir como um possível referencial para o trabalho pedagógico realizado na escola, oferecendo flexibilidade e possibilidades de adaptação.
Segundo os PCNs voltados à Educação Física nos anos iniciais, as aulas de Educação Física devem ser momentos que propiciem aos educandos desenvolver-se integralmente.
Nesta perspectiva, fica claro que aulas puramente tradicionalistas, estereotipadas e de caráter de reprodução gestual já não se adequam a este objetivo.
Os PCNs (1997) apontam que a Educação Física escolar deve contribuir para o desenvolvimento dos aspectos cognitivo, afetivo e corporal, considerando que estes estão inter-relacionados, e entendendo o educando como um sujeito social e cultural, que precisa construir o conhecimento.
Refletindo que cada sujeito está inserido em determinada cultura e em determinado contexto histórico, é evidente a importância de o professor conhecer a realidade com a qual irá trabalhar e, a partir desta, proporcionar experiências que possibilitem que estes sujeitos conheçam e explorem sua cultura corporal de movimento, desenvolvendo suas habilidades pessoais, corporais, afetivas e socioculturais. Os PCNs (1997, p.33) expõem que

É necessário que o indivíduo conheça a natureza e as características de cada situação de ação corporal, como são socialmente construídas e valorizadas, para que possa organizar e utilizar sua motricidade na expressão de sentimentos e emoções de forma adequada e significativa. (BRASIL, 1997, p.33)

            Considerando estes aspectos, o documento fala da importância de se realizar práticas compostas de atividades cooperativas, recreativas, competitivas e de diversas outras características para os educandos aprenderem a diferenciá-las e a se adaptarem às situações que se apresentam ao longo de sua trajetória de vida.
            Segundo os PCNs, torna-se fundamental o registro, a reflexão e a discussão sobre as experiências vivenciadas pelos alunos. Isto torna a aprendizagem significativa, impregnando de sentido os novos conhecimentos construídos pelo sujeito.
            As situações lúdicas são apresentadas como promotoras de aprendizados de uma grande variedade de movimentos que requerem que o educando fique atento para que sejam executados de maneira adequada e satisfatória. Estas situações lúdicas devem oportunizar situações-problema, e que o educando realize a repetição por prazer funcional e para a manutenção.
            Afinal, atividades de automatização, em que a criança repete os movimentos, aperfeiçoando-os, não devem ser tomadas como meta nas práticas escolares, mas como parte integrante do processo de aprendizagem da cultura corporal de movimento, no qual a criança, ao dominar determinado movimento, tem a oportunidade de aperfeiçoá-lo e, então, enfrentar novos desafios.
            Ao proporem atividades nas aulas de Educação Física escolar, os professores também precisam estar atentos à de que maneira os afetos, sentimentos e sensações dos alunos irão interagir com a sua aprendizagem. A manifestação de seus desejos e sentimentos permite aos sujeitos experimentarem e expressarem características de sua personalidade. Segundo os PCNs (1997), nessas práticas o aluno explicita para si mesmo e para o outro como é, como se imagina ser, como gostaria de ser e, portanto, conhece e se permite conhecer pelo outro (BRASIL, 1997, p. 39).
            A afetividade também é um fator a ser considerado quando se pensa na inclusão de portadores de deficiência. Com orientação médica e de acordo com o grau de sua necessidade especial, assim como com as medidas de segurança necessárias para que realizem as atividades sem perigo, e com adaptações para que possam participar da aula, estes têm a possibilidade de frequentar as aulas de Educação Física e desenvolver suas capacidades afetivas, de integração e de inserção social.
            Ao participarem das atividades, sendo integrados ao grupo e tendo suas diferenças respeitadas, tanto os portadores de necessidades especiais quanto seus colegas têm a oportunidade de construir laços de convivência, reforçando a solidariedade, o respeito e a aceitação.
            Os PCNs permitem uma importante reflexão sobre as aulas de Educação Física escolar, propondo que o professor de Educação Física assuma sua identidade enquanto educador e enquanto educador de determinada realidade e contexto escolar.
Atualmente, percebe-se a necessidade de que as práticas sejam mais inclusivas, que dialoguem com o contexto social, histórico e cultural do sujeito, que possibilitem o desenvolvimento integral deste, não considerando apenas seus aspectos físicos, mas também emocionais, afetivos, sociais, cognitivos, culturais.


Referência

BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais: Educação física. Brasília, MEC/SEF, 1997.




[1] Acadêmica do curso de Licenciatura em Educação Física, da Universidade Feevale, e do curso de Licenciatura em Pedagogia a Distância, da Universidade Federal de Pelotas.

RESENHA DO ARTIGO ESPORTE DE AVENTURA É DIFERENTE DE TURISMO DE AVENTURA

RESENHA DO ARTIGO ESPORTE DE AVENTURA É DIFERENTE DE TURISMO DE AVENTURA

PRISCILA TREVISAN[1]

            O artigo Esporte de aventura é diferente de Turismo de aventura, da Revista E.F., ano V, nº 18, de novembro de 2005, aponta que os esportes de aventura por muito tempo não foram estimulados no país. Entretanto, ao perceber que os esportes de aventura ganhavam adeptos e fomentavam a economia, o Ministério do Turismo teve a iniciativa de criar uma regulamentação e certificação para o que chamaram de turismo de aventura.
            Contudo, percebe-se que as práticas esportivas do turismo de aventura necessitam de uma orientação qualificada e habilitada, e de uma maior aproximação com o Ministério dos Esportes, que no passado não dimensionou o crescimento dos esportes de aventura. No Brasil, não há órgãos esportivos que regulamentem o esporte de aventura, somente confederações esportivas.
            Muitos praticantes dos esportes de aventura não têm formação em Educação Física, mas em outras áreas, tendo a atividade como um lazer. Como a atividade é esportiva, cabe ao profissional de Educação Física (E.F.) orientá-la, por conhecer as habilidades, o condicionamento físico, a saúde, a maneira de orientar as pessoas em sua individualidade, tendo formação didática e treinamento.
            Porém o curso de E.F. não oferece formação oficial para esta área. Assim, os condutores se auto-formam ou realizam um curso de curta duração em confederações esportivas ou associações internacionais. Desta maneira, fica evidente a necessidade de formações vinculadas às universidades, confederações e associações.
            Os esportes não-olímpicos, dentre os quais se situam os esportes de aventura, não recebem atenção pois não há mecanismos legais que os viabilizem, tornando sua administração difícil por suas especialidades e fatores de risco.
            Assim, empresários do turismo que perceberam o crescimento da prática de esportes de aventura e sua contribuição para a economia, decidiram investir nas atividades de aventura. Consequentemente, o Ministério do Turismo se viu no direito de regulamentar estas práticas à sua maneira, criando normas na ABNT.
            Entre as fontes abordadas no artigo, o presidente da Associação Brasileira de Parapente aponta que é preciso que o Ministério do Esporte assuma a administração dos esportes de aventura e se envolva para que os esportes de aventura sejam alvo de política públicas.
            Já o Instituto de Hospitalidade, explica que o objetivo da criação de um conjunto de normas técnicas é desenvolver este segmento com segurança e qualidade.
            O Ministério do Esporte aponta a seriedade da discussão, pois os esportes de aventura envolvem alto risco de acidentes e são necessários cuidados com a saúde e segurança de quem os pratica, evidenciando a necessidade de acompanhamento profissional, de observação às normas esportivas e de envolvimento do segmento esportivo.
            Já o CONFEF, se posiciona apontando que o esporte de aventura se vincula tanto à área do turismo como do esporte, sendo necessário que estas duas áreas se integrem para o benefício da sociedade. Sendo os profissionais habilitados pelo Sistema CONFEF/CREFs aqueles que devem orientar as atividades físicas e dinamizá-las; e os profissionais do turismo os responsáveis pelas demais atividades turísticas (hospedagem, alimentação...).
            Desta forma, percebe-se que o profissional de E.F. é indispensável na prática das atividades esportivas realizadas no setor turístico, sendo necessária maior discussão e reflexão sobre o tema para que se construa uma política de esporte de aventura saudável, que respeite seus praticantes.



[1] Acadêmica do curso de Licenciatura em Educação Física da Universidade Feevale, e do curso de Licenciatura em Pedagogia a Distância da Universidade Federal de Pelotas.

domingo, 30 de dezembro de 2012

Reflexão...

"Ninguém começa a ser educador numa certa terça-feira às quatro horas da tarde. Ninguém nasce educador ou marcado para ser educador. A gente se faz educador, a gente se forma, como educador, permanentemente, na prática e na reflexão sobre a prática".
FREIRE, Paulo.  Educação na Cidade. 2001, p. 58. 


Resenha do livro A língua de Eulália, de Marcos Bagno


RESENHA DO LIVRO “A LÍNGUA DE EULÁLIA: NOVELA SOCIOLINGÜÍSTICA”

Priscila Trevisan

A obra “A língua de Eulália: novela sociolingüística”, do escritor, professor, tradutor e linguista Marcos Bagno, foi publicada pela primeira vez pela Editora Contexto, em 1997.
Marcos Bagno conta a história de uma viagem de férias de três amigas (Sílvia, Emília e Vera) à casa de Irene, tia de Vera. Irene é uma linguista e, ao perceber o preconceito linguístico a que incorrem as três mulheres ao ouvirem a fala de Eulália, amiga de Irene, propõe uma reflexão sobre a língua portuguesa. Elas gostam tanto que sugerem ter aulas sobre o assunto durante sua estadia.
A partir dos diálogos e reflexões das quatro mulheres, o livro explora as diferenças entre o português-padrão (PP) e o português não-padrão (PNP), desvendando mitos e preconceitos linguísticos e propondo uma forma crítica de ensinar a norma-padrão da língua portuguesa sem deixar de valorizar o uso do português não-padrão.
O livro possui 22 capítulos, e 251 páginas. Os capítulos abordam o cotidiano das férias das moças e as aulas de Irene (que vinha escrevendo um livro sobre as diferenças entre português padrão e não-padrão) com suas convidadas. A cada aula é visto um novo aspecto sobre as diferenças entre as variedades linguísticas. Os capítulos subdividem-se procurando explicar de forma clara e minuciosa variações da língua, embasando-se sócio-historicamente, na lógica e nas próprias regras.
De início, o livro fala sobre a chegada das moças e sua interação com Irene e Eulália. Em seguida, sobre as aulas que, a princípio, procuram discorrer sobre o mito da unidade linguística, colocando que o português de Portugal e o do Brasil possuem diferenças, entre elas, as variedades geográficas, de gênero, etárias, de nível de instrução, urbanas, rurais etc. e que a língua está em constante movimento, sempre mudando e variando de acordo com o espaço e o tempo.
O livro evidencia que não há um modo de falar “certo” ou “errado”, mas diferente. Portanto, o PNP, apesar de não se enquadrar à norma-padrão (que chegou a este posto por motivos históricos, econômicos, sociais e culturais), não pode ser considerado errado. Mas, devido ao preconceito linguístico, quanto mais longe o sujeito está da norma-padrão, menos ele é valorizado. Desta maneira, aqueles que não têm acesso a esta norma e trazem consigo uma rica bagagem de PNP (que possui regras e lógica coerentes) podem acabar excluídos, vítimas de preconceito linguístico.
De acordo com Bagno, o preconceito linguístico surge a partir da evidência das diferenças sociais, quando a língua é utilizada para deixar clara a distância entre classes sociais.
O livro ilustra que as principais diferenças entre o PP e o PNP são: o primeiro ser artificial, por precisar seguir uma norma-padrão, não havendo flexibilidade; precisar ser adquirido na escola e aprendido, decorado, memorizado, também ser redundante e conservador, demorando a assimilar novidades, tendo uma tradição escrita muito forte.
Já o PNP é natural, seguindo as tendências da língua. Também é transmitido por gerações e apreendido naturalmente pelos sujeitos. Por tratar de “enxugar os excessos”, o PNP é funcional, eliminando regras desnecessárias, e inovador por se modificar continuamente, além de ter uma tradição oral, sendo mais facilmente apreendida, e familiar. Assim, o ditado da personagem Irene, “A língua voa, a mão se arrasta”, ilustra o quanto o PNP é dinâmico.
Bagno explica que não é apenas no português que estas variações linguísticas ocorrem, mas em outras línguas, como francês, espanhol e inglês, evidenciando que estas variações não podem ser tratadas como “erros”.
Entre algumas diferenciações que o livro apresenta, encontra-se o caso da tendência da nossa língua (derivada do latim) em transformar o L dos encontros consonantais em R. Na verdade, como explica o livro, no PNP não existem encontros consonantais com L, originando palavras como broco e pranta.
Outro caso é a eliminação das marcas redundantes de plural, que mostra o quanto o PNP é uma língua econômica. Ao invés de marcar o plural em várias palavras da frase de forma redundante, como ocorre no PP, o PNP coloca apenas a primeira palavra da frase no plural eliminando redundância sem perder o sentido.
A personagem Irene explica que na variedade do PNP não existe o som consonantal LH, ocasionando a transformação de LH em I, pela maior proximidade e comodidade em pronunciar o I.
Em uma das aulas, à noite, as quatro refletem sobre a simplificação das conjugações verbais demonstrando que, enquanto o PP conjuga os verbos de acordo com cada pessoa verbal, o PNP conjuga apenas o verbo da primeira pessoa verbal, enquanto as demais pessoas verbais permanecem com a mesma conjugação (PNP: eu amo, tu ama, ele ama, nós/a gente ama etc.). Confirmando, novamente, sua economia ao eliminar concordâncias redundantes. Assim como a necessidade do ser humano em distinguir-se do outro, do coletivo.
Mais adiante, é explicado que as transformações de ND em N e MB em Macontecem em decorrência das assimilações. O N e o D são fonemas dentais, ou seja, são produzidos pela língua na mesma região da boca. A assimilação, por sua vez, tenta transformar estes dois sons similares num mesmo som. Assim, o ND acaba sendo pronunciado como N e o MB, como M. O mesmo ocorre com o ditongo EI, transformado em E, quando diante das consoantes J, X e R. Ainda devido à assimilação, no PNP o ditongo OU transforma-se em O ao ser pronunciado, embora continue sendo escrito OU. O autor ainda evidencia que a diferença entre língua escrita e falada ocorre em todas as línguas, em diversos graus de distância entre as formas oral e escrita.
Em uma das aulas de Irene, as moças refletem que a contração das proparoxítonas (sílaba tônica na antepenúltima sílaba) em paroxítonas (sílaba tônica na penúltima sílaba) é bastante frequente no PNP, para acompanharem o ritmo deste. Assim como a tendência da língua de eliminar o som nasal das vogais após a sílaba tônica faz com que palavras como garagem e homem, sejam faladas garage e home.
Bagno explica que, em nosso país, alguns arcaísmos são tidos como erros, como é o caso de aquentar, alevantar, ajuntar, assoprar... Mas, na verdade, são heranças muito antigas, que foram conservadas pelas variedades de PNP.
Abordando as analogias da língua portuguesa, elas podem levar à criação de regularidades ao tentar enquadrar vários fenômenos às mesmas regras, comprovadas eficientes. E também à hipercorreção, quando o sujeito tenta falar mais “corretamente” e acaba “errando”. No PNP, a analogia cria novas formas regulares.
Ao final, o autor coloca que existem muitas variedades linguísticas não- padrão e para defini-las é preciso levar em conta uma série de fatores. Conclui que a norma-padrão é nada menos que um ideal, e seu uso acaba tornando-se a identidade das classes dominantes e conservadoras, marcando sua diferenciação das classes menos privilegiadas. Os falantes considerados cultos, dominantes desta norma, são sujeitos que tem nível superior completo. Embora em realidade este seja um critério para pesquisas, sendo um dos motivos o seu maior domínio sobre as variedades linguísticas, conseguindo flexibilizar seu uso de acordo com a situação.
A personagem Irene defende que os gramáticos atuais não refletem os fatores históricos, sociais e culturais da língua, eliminando sua complexidade. Ela ainda ressalta que o PP e o PNP nunca entrarão em consenso, e que sempre haverá distância entre a tendência conservadora do PP e a inovadora do PNP.
Irene também propõe que a escola seja um espaço onde se proporcione o máximo de variedades linguísticas para que as pessoas tenham noção de que há um leque de variedades. Não existe um PP e um PNP, mas uma língua única, com a norma-padrão e todas suas variações, sendo que o processo de transformação da língua nunca para, tanto no PP quanto no PNP.

Assim, percebe-se que não há um falar “certo” ou “errado”, muito menos um português “universal”, único, mas uma língua repleta de variações com explicação lógica e científica. Variações que, inclusive, existem em diversas outras línguas, com aspectos que são, em realidade, arcaísmos. E que a oralidade é muito rica, não podendo ser banalizada em razão da língua escrita, pois o PNP não é inferior ao PP, mas diferente, não podendo ser alvo de preconceito linguístico.

Amo ler! :)